data-filename="retriever" style="width: 100%;">Estamos em pleno inverno, a estação fria do ano. Nestas plagas sulistas, abaixo da linha do Trópico de Capricórnio, as estações do ano são bem definidas e o inverno mostra características e rigores: dias com períodos de luz mais curtos, temperaturas baixas, geadas ou até, muito eventualmente, alguma neve.
Tenho lembranças dos invernos na planície dos pampas em Quaraí na infância e início da adolescência, depois em Santa Maria na juventude e na maturidade. Há quem prefira os dias outonais ou do inverno. Sempre estive no outro grupo dos que elegem a primavera e o verão como estações que proporcionam maior prazer.
Os invernos nas planuras do Pampa deixaram recordações marcantes. Lembro até de insetos congelados e grudados à parede da casa esperando o sol aquecer para voltarem a voar. Divertia-me cutucando-os com uma vara e fazendo-os cair. Desconfio que as pessoas não acreditem quando conto esta lembrança. Em Santa Maria, o período hibernal é um pouco diferente, mas também rigoroso com umidade, frio e, algumas vezes, vento. Em raras ocasiões teve neve e até desci do Itaara com um boneco de neve no capô do carro, lá pelos anos 1970.
Certa vez, li um autor que dividia a vida humana em ciclos correspondentes às estações: primavera da infância e juventude até os 25 anos; verão da fase mais energética da maturidade dos 25 aos 50 anos; outono do ser humano maduro e mais assentado dos 50 aos 75; inverno da velhice a partir dos 75. Eis que estou no inverno existencial.
Na vida dos indivíduos, a estação invernal tem suas limitações e agruras. Em geral, a saúde se precariza e vem aquela sensação de não mais poder agir como antes, fazer o que costumava, entregar-se a prazeres mais intensos ou tarefas mais difíceis.
Como moleque pampeano, demorei a conhecer o mar. Fui adentrá-lo no Imbé já jovem maduro. E por ele me apaixonei. A vida proporcionou-me oportunidade de andar um pouco pelo mundo. Onde estive, nunca deixei de tomar banho de mar e, hoje, quando ouço sobre tal oceano ou aquele mar regozija minha memória pensando que em suas águas um dia curti. Hoje, me limito a caminhada na areia com as ondas lambendo os pés e para arriscar um pouco mais só escoltado pelos filhos para não cair.
No Hemisfério Norte, é no inverno que o ano termina e a mudança no calendário, muitas vezes, ocorre entre nevascas. Serve ainda melhor para a comparação com a vida individual. Aqui, na metade meridional do planeta, é diferente. A troca de ano dá-se em pleno verão.
Todavia, para o ser humano, o inverno existencial é sempre o ciclo derradeiro e ao contrário da natureza, as estações não retornarão, não mais haverá uma primavera.
Fico feliz e empolgado ao ver tantas pessoas que aprenderam a deleitar-se com a idade avançada, retirando dela motivos para prazer, bem-estar e regozijo. Talvez, não tenha me preparado para o inverno, mas a verdade é que sinto saudade do verão, que não mais está disponível.